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João Pacheco Matos

joaopmatos@hotmail.com

Habitação Anadia 2025

O problema da falta de habitação disponível – em especial para os jovens – é de âmbito nacional e mais notado nas cidades de grande e média dimensão.

Segundo o INE, na sua edição de 2024 do relatório do parque habitacional português, em 1991 construíram-se 63.000 casas vindo esse número a aumentar consecutivamente todos os anos até 2002, tendo sido construídas 126.000 casas nesse ano. No ano seguinte o número de casas construídas começou a baixar até ao mínimo de 7.000 em 2015. De então para cá a construção de novas habitações tem vindo a aumentar lentamente para um máximo de apenas 19.616 novas habitações em 2021.

Não pretendo fazer nenhuma avaliação a estes números, até porque me falta informação. No entanto, revelam a maior causa para a falta de habitação disponível: o reduzido número de novas construções. Note-se que não falta construção nova no Parque das Nações em Lisboa, nas Antas no Porto ou em Vilamoura no Algarve. Falta é habitação nova, onde e que as pessoas consigam pagar (não estou a falar de habitação social, esse é uma questão diferente, que tem a ver com pobreza e não com política de habitação).

Transportando a situação para o concelho de Anadia, há duas abordagens distintas. Por um lado, as necessidades das pessoas do próprio concelho. Mas por outro, de que forma Anadia se pode tornar uma opção para quem trabalha em Coimbra ou Aveiro, cidades de média dimensão, onde o problema é mais vincado.

Neste particular as autarquias estão muito limitadas pelo poder central, nomeadamente pela definição das Redes Agrícolas e Ecológicas Nacionais, desenhadas pelo burocratas sentados nos gabinetes de Lisboa. É como dizer a duas equipas para fazerem um jogo de futebol de 11, mas a Liga só deixa jogar nalgumas partes do campo.

Resulta no ridículo de tanto haver floresta dentro da cidade – assim de cabeça lembro-me de duas zonas destas em Anadia – como de haver zonas de urbanas onde está floresta.

No entanto, essa limitação das autarquias obriga-as a trabalhar mais e a estabelecer estratégias de médio e longo prazo (como expliquei no artigo de 29 de Agosto, pessoalmente considero que podemos passar a olhar para ciclos autárquicos de 12 anos divididos em 3 eleições a cada 4 anos) para pressionar o Estado central – e não esquecer que temos um novo governo com uma tendência mais liberal e mais virada para o mercado, ao contrário do anterior, mais estatizante e “estático” nestes assuntos.

É importante também definir que tipo de habitação se deve construir. Tradicionalmente, “toda a gente” quer ter a sua vivenda, com o seu pequeno quintal ou jardim. Porém, este tipo de habitação é mais cara e ocupa muito mais espaço por individuo, tem menor valor de mercado no futuro e em termos urbanísticos, isola as pessoas. Além de normalmente estar apenas disponível junto à floresta, com os riscos inerentes.

Ao invés, as habitações multifamiliares juntam pessoas, criam bairros e comunidades, atraem comércio e serviços, abrem oportunidades de valorização social, novos espaços comuns de lazer, são mais económicas por individuo, ocupam menos espaço e têm um valor comercial muito maior quando o proprietário decida vender.

Este é um paradigma que, havendo certamente resistência, será muito importante mudar.

Há ainda outros factores que abordarei mais tarde em texto próprio, nomeadamente a (falta de) disponibilidade de transportes públicos eficientes e confortáveis dentro do concelho e entre o concelho e Coimbra/Aveiro (Deus nos livre de ter de depender da CP para alguma coisa), a aposta na indústria e que indústria, oferta cultural, etc…

[Luís Montenegro: arranje um auricular para que lhe soprem ao ouvido quando for dizer asneiras]
[Pedro Nuno Santos: tanto tempo perdido e afinal bastava apenas olhar para o calendário]
[André Ventura: “nós não somos para descartar”. São sim senhor… pelo povo. Na próxima oportunidade, estou certo]