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Manuel Armando

Padre

Milhões para a guerra e morte… as promessas apagarão a fome…

Se eu tivesse o privilégio e capacidade para ser responsável num ministério de economia ou administrador das finanças nacionais, seria naturalmente capaz de avaliar as grandes convulsões e movimentações concernentes aos dinheiros públicos, como ainda àqueles que pertencem a grupos ou a particulares. Todavia, devo-me contentar com o manuseio de algumas moedas que tilintam, umas contra as outras, remexidas na hora de tomar um cafezito.

Ouço, como toda a gente, falar de somas astronómicas, com uma facilidade incomum, como se fora qualquer ninharia sem importância nem alcance numa bolsa que não se dá ao trabalho de contabilizar ou catalogar as moeditas que nem força têm já para se exibirem na praça pública, mesmo levadas ao colo de quem também, penosamente, arrasta os pés ou tropeça nas pedras do caminho inóspito da amargura para quantos suam as estopinhas por um naco de pão.

Digo, não percebo as imensas convulsões humanas materiais que acontecem numa sociedade, onde a discrepância abissal existe despudoradamente entre os seus membros, pondo a descoberto a pobreza da desigualdade social.

Em cada dia, aumentam as queixas sobre uma prática que deixou de ser constituída por operações de somar, multiplicar ou mesmo dividir, em alguns momentos, mas tão somente afeita à função de diminuir.

É este o caminho da derrocada social e económica de um povo que tem os dedos rompidos por ter de contar sistemática e obrigatoriamente as moedas. E a corrente desliza com uma velocidade supersónica, estonteante, incrível. Não dá tempo a que o espírito balbucie o nome de qualquer valor. A derrocada é fatal e, paradoxalmente, aceite por determinada classe.

Ouve-se apregoar a saída dos cofres públicos e sociais de milhares de divisas que correm velozmente até ao estádio da guerra, para causarem morte, enquanto por todos os cantos e esquinas soam as vozes dolentes da fome e da doença, sem suporte digno e respeitador da pessoa que se empenhou em tudo, mas, agora, repara que não possui um chavo capaz de mandar “cantar um cego”.

Em todas as épocas da História se verifica a mesma preocupação de sustentar a guerra e as grandes empresas a ela ligadas, enquanto se esquecem deliberadamente as vítimas para as quais opinam novas reformas e ajudas.

Neste caso, quando se canalizam milhões para a arena da destruição e morte, regateiam-se e negam-se as migalhas que poderiam encher a cova de um dente e trazer alguma utilidade, felicidade, bem-estar, alimento, educação e moralização ao homem que, pelo contrário, caminha para o desenlace final. Soltam-se, em catadupa, discursos adormecedores, embrulhados nos paninhos quentes das lisonjas e promessas vazias, apontando prazos inatingíveis, enquanto a fome, a doença, o desemprego, a insegurança, o crime e mais outras realidades vão alastrando, a campo aberto, onde a sociedade que se apresenta ressequida, morrendo sem solidariedade ou ajuda fraternal.

Na verdade, habitamos um mundo a tornar-se, cada vez mais, mundo cão.