Jamais se pode conceber um mundo onde cada um faça apenas o que é a sua única e teimosa vontade. Impossível pensar que se constrói uma vida sem olhar todos os lados, porque em tudo terá de haver uma colaboração estreita, honesta e cordial.
Parece visível que as comunidades se vão desagregando, pouco a pouco, uma vez que se deixam enredar por quantas coisas os distraem e não lhes acarretam, por isso, quaisquer responsabilidades, ou melhor, essas responsabilidades existem, todavia, será mais fácil torná-las esquecidas. Daí, cada um considerar bastar-se a si próprio, omitindo voluntariamente todas as ligações a outros.
Proliferam o egoísmo e a insensibilidade ou desinteresse perante o desenrolar de uma vida que podia e devia ser partilhada sem interesses pessoais, sempre mesquinhos, mas com a noção enriquecedora de todos fazerem parte de um universo de homens, homogéneo, enriquecido por capacidades e dons diversos que se cruzam em mútua laboração enquanto produzem magnanimamente o bem global.
O reverso desta situação é o facto de começar a ser muito anómala porquanto tal ambiente arrasta uma parte significativa da juventude que deveria alicerçar o seu futuro nas bases da verdade e compromisso, mas que se embrenha na posição de ostracismo abstencionista gritante, levando a escurecer os raios daquela esperança que se postará muito longe dos seus horizontes existenciais.
A alienação, voluntária ou provocada por uma deficiente formação familiar ou mais comunitária, quebra algumas relações de amizade e de abnegada colaboração e conduz alguém a uma fatal derrocada mortífera.
Pensar-se e fazer-se crer, sobretudo aos mais jovens, que este é o ambiente tornado normal, rompe os laços, outrora seguros e comprometidos, para desenvolver uma sociedade amorfa, enquanto estes, digo os novos, a entendem como mentira e invenção de quem nunca deseja desenraizar-se de um passado, familiar ou mais alargado.
Não vamos, certamente, condenar a juventude dos nossos dias e a dos futuros, mas não se pode aceitar como, até, esquecer a banalidade em que a votam muitos educadores para quem é mais fácil a atitude de deixar os novos descobrirem o seu mundo sem nenhuma imposição. Contudo, não há imposição onde se verifica a verdadeira necessidade de educar.
Educar é fazer cada um encontrar-se a si mesmo e que tome entendimento das suas capacidades inatas. Isso não impede a liberdade, mas evita, decerto, uma possível libertinagem em que muitos poderão naufragar.
Pena é verificar-se a perda de noção da importância da pessoa porque poucos serão ajudados a descobri-la e a promovê-la. Esta riqueza enobrece qualquer indivíduo quando, conscientemente, se sente apto a arcar com determinada missão, não visando apenas um final de mês, mas de modo a perdurar nos seus efeitos e resultados, analisados e valorizados por outros que encontram mais valia para o assunto do que o próprio autor, tantas vezes, distraído de quanto peso tem na sociedade em que se insere.
Insistamos na ideia de que a família terá o papel mais preponderante, não se vergando perante o ter, para educar e encaminhar no ser.
A carestia dos tempos presentes conduz inexoravelmente a uma decadência sociológica e carrega energias num sector de vida que não se coaduna com a vocação de quem busca trabalho condigno, eficaz e de utilidade comunitária.
A profusão de apelos falazes que prometem divisas exorbitantes e tentadoras pode ser um perigo permanente, conducente ao desassombro ou desilusão naquele que se vê completamente fora de um trabalho sobre o qual nunca se terá debruçado.
O cargo a desempenhar deverá ser uma enorme descoberta a talhar o caminho de quantos têm o tranquilo conhecimento de que ninguém é único sobre a Terra e que, embora distraído, jamais está isolado num seu qualquer cantinho.
