No meu último artigo chamei à atenção das próximas eleições autárquicas, da particularidade da mudança de ciclo no concelho de Anadia e da necessidade dos candidatos pensarem e apresentarem à discussão as suas ideias sobre um conjunto de assuntos genericamente essenciais ao desenvolvimento do concelho, pensado para um novo ciclo alargado de 12 anos.
Durante as próximas semanas pretendo contribuir para o lançamento da discussão, abordando mais em detalhe alguns desses pontos.
No entanto, como se deve começar pelo princípio, o artigo desta semana foca-se na identificação, necessariamente resumida, da situação em que o concelho se encontra hoje, aplicando um conceito muito simples da gestão de empresas, a análise SWOT, acrónimo inglês para Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças.
Começando pelos factores externos, não é difícil encontrar as duas grandes AMEAÇAS globais – a guerra na Terra Santa e a invasão da Ucrânia, ambas com efeitos económicos ainda incertos. Também no âmbito global, mas com consequências já bem visíveis por cá, são as alterações climáticas. A nível nacional, o envelhecimento da população é um problema com reflexos na disponibilidade de mão de obra para a economia e no desvio de recursos para o apoio social. Localmente há que contar com a linha do TGV a rasgar a Bairrada, a turbulência no sector do vinho e a maior atractividade económica e social de alguns concelhos vizinhos.
No entanto, algumas destas ameaças podem ser também OPORTUNIDADES. Se as alterações climáticas potenciam fogos florestais violentos, por outro lado permitem a exploração agrícola de culturas novas (por exemplo, o abacate) ou a diferenciação de outras (o caso do vinho). A falta de habitação disponível em cidades maiores, especialmente para jovens, pode ser uma boa oportunidade para atrair e reter pessoas. A Inteligência Artificial é tanto uma ameaça, se nos encolhermos, como uma tremenda oportunidade, se abraçarmos a inovação e olharmos para o futuro.
O concelho de Anadia perdeu população nos últimos 20 anos. A incapacidade de atrair e acima de tudo de reter pessoas, é sintoma de um conjunto de FRAQUEZAS importantes que é preciso reconhecer: a falta de competitividade da economia local, a perda de importância cultural e social do centro da cidade, a fraca oferta de polos de desenvolvimento e inovação, a incapacidade de estabelecer parcerias com vizinhos e universidades, uma deficiente oferta hoteleira, a total indisponibilidade de uma rede de transportes públicos que permitam um mínimo de mobilidade, etc… a lista é grande e vem de longe. Mas é essencial reconhecer as fraquezas para actuar sobre elas. Sem disparar acusações e culpabilizações. E sem meter a cabeça na areia.
Porque quem pode ser responsabilizado pelas fraquezas, também o será por grande parte das FORÇAS do concelho. É um orgulho saber que um bocado daquela medalha de ouro olímpica foi forjada no CAR de Sangalhos, uma infra-estrutura que pode ser ainda mais explorada. Para além das condições naturais, o conhecimento da vinha e do vinho, em particular do espumante, está em Anadia. Há ainda empresas e infra-estruturas com história.
Este é um pequeno resumo que serve de base para o lançamento de uma análise sectorial do futuro do concelho de Anadia que pretendo abordar nas próximas semanas: a habitação, a economia, a floresta, o ambiente, a indústria, o emprego, a cultura, entre outros.
Texto escrito ao abrigo do anterior acordo ortográfico, por vontade expressa do autor