Francis Fukuyama declarou, em 1989, que a história tinha chegado ao fim. Para ele, o triunfo da democracia liberal e do capitalismo sobre a URSS marcava o auge da evolução política da humanidade. Contudo, as últimas décadas mostraram que esta tese ignorava a capacidade humana de repetir erros do passado. A eleição de Donald Trump e a ascensão de Elon Musk evidenciam uma nova era: o tecnofeudalismo.
A eleição de Trump é mais do que uma viragem política – é o reflexo de um mundo em convulsão, onde o medo supera a razão e a tecnologia se torna ferramenta de controlo. Gestos como a alegada saudação nazi de Musk deixam de ser lapsos para simbolizar o colapso democrático.
O tecnofeudalismo transforma o capitalismo numa estrutura mais sinistra. Os novos senhores feudais controlam plataformas, algoritmos e bases da economia. Elon Musk, Mark Zuckerberg, Jeff Bezos, Sundar Pichai, Larry Page, Sergey Brin, Tim Cook e Satya Nadella lideram esta ordem.
O passado no presente
A saudação nazi de Musk não é apenas um gesto. É o retorno do autoritarismo, mascarado de “provocação”. Este gesto, aliado ao apoio a movimentos como o AfD na Alemanha, normaliza um passado sombrio que deveria permanecer enterrado.
Trump amplifica estas forças. O seu regresso catalisa a fusão entre poder político e tecnológico. Esta “autocracia digital” concentra influência em bilionários que controlam a expressão, o trabalho e o pensamento.
Os barões do tecnofeudalismo
Elon Musk domina o setor dos transportes (Tesla), espaço (SpaceX) e comunicações (Starlink, X). Zuckerberg controla interações humanas com Meta. Bezos lidera o comércio global com Amazon. Sundar Pichai, da Alphabet, gere informação via Google e YouTube.
Page e Brin, fundadores do Google, permanecem influentes nas sombras. Tim Cook (Apple) e Satya Nadella (Microsoft) colonizam lares e locais de trabalho. Estes barões ultrapassam fronteiras e operam onde a democracia pouco intervém.
Europa: palco de uma batalha perdida?
Enquanto os barões consolidam o poder, a Europa enfrenta crises e divisões. Movimentos como o AfD prosperam num continente em colapso energético, económico e social. A dependência europeia das Big Techs Americanas aumenta a sua fragilidade, enquanto a falta de visão de Bruxelas favorece extremismos.
O apoio de Musk à extrema-direita europeia e o fascínio por soluções autoritárias são sintomas desta fragilidade. Cada crise é uma oportunidade para o populismo e os novos senhores solidificarem o poder.
O que está em jogo?
O tecnofeudalismo substitui direitos por serviços, cidadania por subscrições e democracia por algoritmos opacos. Os cidadãos tornam-se consumidores e as nações, mercados. Este sistema impõe desigualdades e submissão.
Gestos como o de Musk e a ascensão de Trump misturam o autoritarismo do passado com o poder tecnológico do presente.
Resistência global
A resistência europeia ao tecnofeudalismo exige uma aliança global que transcenda fronteiras. Não há tempo para euroceticismos. É necessária uma União Europeia diferente, unida, sem austeridade e mais democrática para liderar este movimento. É urgente que a tecnologia seja regulamentada e que volte a servir a humanidade, não o contrário.
A história mostrou as consequências de ignorar os sinais. Desta vez, o inimigo opera nos servidores e nuvens digitais. O tempo para agir é curto, mas ainda podemos escolher.