A moda é mesmo o que está na moda. Eis a maior referência dos tempos que correm: o que está em moda ou o que não está em moda. Por isto mesmo, pagamos a moda, vivemos da moda, gastamos à moda (dos grandes), falamos à moda dos outros, penteamos à moda, vestimos à moda… Quase se podia dizer que a moda é a medida do nosso mundo. Para andar na moda fazem-se todos os sacrifícios: pode-se ficar sem comer, mas sem a moda não se pode viver. Mas, tudo, tudo apenas à moda dos outros para não andarmos desactualizados. (?)
Estamos a chegar ao Natal e a moda social faz-nos gastar dinheiro que não temos, faz-nos dar prendas para pagar favores, leva-nos ao envio de dezenas de mensagens, chamadas de “boas festas” mas tremendamente superficiais e cheias das mais tolas banalidades, muitas e muitas vezes na base de uma intimidade que em nada corresponde à relação diária; pela moda das tradições fazemos ceias e convívios de Natal com amigos (?) e famílias, tantas vezes desavindas, pela moda da publicidade substituímos os presépios pelos “pinheirinhos de natal”, trocamos as imagens do presépio pelo banais pais-natal, que mais parecem assaltantes do que portadores de prendas. Enfim… Enlouquecidos pelas sedutoras e reluzentes luzinhas da moda … assim vamos vivendo o Natal da moda. A solidariedade, aqui ou ali, também se vai pautando por um certo tipo de afirmação ocasional, mais do que real ajuda a quem verdadeira e diariamente precisa.
– Então, e agora?
– Agora precisamos de deixar para trás o natal da moda para entrar ou reentrar na vida à moda do Natal, ou seja, aprendendo na escola do presépio a olhar a vida e o mundo, este mundo que é o nosso, com olhares diferentes. Não somos ateus ou agnósticos que celebram o natal porque é moda, mas somos gente de fé que celebra a vida à moda do Natal: não uma luzinha mas a LUZ, não uma festinha mas FESTA, não o nascimento de uma criança sem abrigo, nascida num curral, mas a SALVAÇÃO, não um tal Jesus, mas a PALAVRA.
Viver à moda do Natal é fazer com que toda a humanidade olhe o Homem com os olhos de um coração preocupado, aberto e sensível à realidade de um mundo onde o Homem se vai tornando, apenas, cada vez mais Homem. Olhar para longe e para perto, aceitando o desafio de um mundo bem real, mundo que não é, de forma nenhuma, o da moda. Mas cuidado! Quantas vezes, olhamos para muito longe, e esquecemo-nos de olhar para os nossos pés. Iludimo-nos com o mundo longínquo e não tomamos consciência da realidade em que nos situamos. Não que seja mau olhar para longe, mas é mau só olhar para o distante.
Na escola do presépio aprendemos a reconhecer as realidades de um mundo de pobreza. Porém, continua a ser moda dizer-se que hoje não há pobres. Confrontados com a vida, em muitas circunstâncias menos graves mas mais comuns, o coração não vê, não sente, não se abre e torna-se duro, muitas vezes transforma-se no dito “coração de pedra”. Refiro-me, como se deduz, à atenção que devia ser dispensada constantemente aos pobres e carenciados que vivem à nossa volta, todos os dias, começando pelos nossos próprios familiares que vivem (vegetam?) em perfeito abandono, remetidos para a sua pobreza e, até, miséria, porque os bens já estão do nosso lado, ou “despejados” em lares mais ou menos humanos ou desumanos; refiro-me aos nossos vizinhos, incapazes, tantas vezes, de se governarem por si mesmos; refiro-me às misérias escondidas por detrás da vergonha de quem antes quer passar mal, do que chamar a atenção para si; refiro-me às misérias que se escondem dentro de cada um de nós, e debaixo dos nossos tectos, sem termos quem “olhe” para nós, aqui tão perto.
Também é moda nós sermos muito atenciosos para os de fora, que também têm necessidades e são gente, mas já está fora de moda o sentido da justiça e a preocupação cuidadosa com os “irmãos” que vivem, permanentemente ao nosso lado. Contradições que, muitas vezes, nem à luz do presépio queremos resolver! Sem esquecer que “todo o homem é meu irmão”, lembremo-nos de que “a verdadeira caridade começa em casa.”!
Precisamos de olhos que vejam para além dos nossos mesquinhos horizontes, mas não podemos deixar de ver bem ao perto para “ler” o que se passa nos presépios que existem à nossa volta, mesmo que tal pareça estar fora de moda!
Há presépios bem bonitos a enfeitar as nossas casas, os nossos jardins e ruas, e há presépios bem feios aos quais ninguém presta atenção. Nesses também é necessário que seja dada à luz a Salvação.
Natal para todos? – Sim?… Não?… Talvez?… Depende de todos nós.
Padre Costa Leite