Os recentes cortes anunciados pela Tutela para a área da Saúde fazem temer o pior no Hospital José Luciano de Castro, em Anadia.
Esta unidade hospitalar, que está a passar por um processo que visa a sua devolução à Santa Casa de Misericórdia de Anadia, teme pelo futuro dos serviços de excelência que pratica ao nível das Consultas Externas, Cirurgia Geral e Cirurgia do Ambulatório (ver notícia pág. 15).
Resultados. Em 2012, o Hospital realizou um total de 863 cirurgias, 475 cirurgias gerais, 243 de ortopedia, 104 de urologia e 42 de oftalmologia e cerca de 17 mil consultas externas.
Números que permitem ao diretor clínico, Rui Simões, fazer um balanço positivo do desempenho da Unidade de Cirurgia do Ambulatório e da Cirurgia Geral, até porque de facto se registou um incremento do número de doentes operados (mais 90) do que no ano transato.
Receios. Mas, neste ano de 2013, as perspetivas não são tão animadoras e o balanço do primeiro trimestre faz recear o pior, já que o desempenho ao nível da Cirurgia e da Consulta Externa está longe de atingir os números inicialmente traçados.
“Este ano está a ser particularmente diferente e difícil”, diz Rui Simões, não só porque a Tutela impôs mudança nas equipas médicas, mas porque nalgumas especialidades, como é o caso da oftalmologia, o Hospital está sem médico, situação que deverá ser reposta até final do mês. “A médica foi embora e é esta falta de médicos especialistas/operadores que inviabiliza a realização do número de consultas e intervenções cirúrgicas desejadas”, acrescenta, dando conta de que, a partir de janeiro, a administração do Hospital deixou de poder contratar médicos: “passamos a ser obrigados a ir ao mercado, contratar empresas.” Ou seja, a maioria dos médicos vem de fora, já que, pertencentes ao quadro do Hospital (que tem vindo a ser reduzido anualmente), restam apenas sete médicos e 38 enfermeiros.
O Hospital disponibiliza Consultas Externas em Cirurgia Geral, Ortopedia, Urologia, Anestesia, Medicina Interna – Diabetes, Dermatologia, Cardiologia, Oftalmologia, Pediatria, Otorrinolaringologia e Fisiatria. No entanto, devido a estes constangimentos, a lista de espera para consulta de oftalmologia é de 10 meses. Em otorrinolaringologia estão a ser marcados doentes de janeiro para maio (4 meses de atraso) e igual período para as especialidades de urologia e ortopedia.
Nos corredores semi-vazios (a zona de internamento da Cirurgia do Ambulatório com 10 camas), onde os doentes permanecem no máximo 24h, após cirurgia, nota-se, aqui e ali, algum desânimo e receio pelo futuro desta casa, mas também alguma desmotivação, pela forma como todo este processo está a ser conduzido pela Tutela.
Com duas salas de cirurgia, apenas uma está a ser utilizada. Neste momento as operações às varizes, hérnias, cirurgia geral, cirurgia da mão, do túnel do carpo, do pé, incontinência urinária e fimose, entre outras, são as mais frequentes.
Na Cirurgia, a lista de espera, ao contrário, é meramente residual, ou seja, tem 15 dias, o que significa que um paciente que passe pela consulta externa pode ser operado na semana seguinte.
Sucesso de 2013 comprometido. A fasquia para 2013 era conseguir operar cerca de 1050 doentes, meta que já não é possível atingir na medida em que vai demorar algum tempo a acabar com as listas de espera das Consultas Externas. Ou seja, “estamos com uma produção de -50%, portanto com pior desempenho de que em fevereiro”, confirmou o clínico Rui Simões.
No ano passado foram operadas, na cirurgia geral, 162 pessoas que chegaram pelo SIGIC (Sistema de Gestão dos Utentes inscritos para Cirurgia); este ano, dado os constrangimentos impostos pela Tutela, o Hospital preferiu não arriscar mandar vir doentes da rede: “só estamos a operar doentes gerados pelo hospital/consulta externa”.
“Não conseguir prestar um serviço atempadamente é o que mais nos preocupa, mas de facto estamos condicionados pelos constrangimentos do sistema e das regras cada vez mais apertadas, nomeadamente ao nível do mapa de pessoal” afirma, reconhecendo que “o encerramento das urgências foi o princípio do fim do Hospital”, enquanto que é sua convicção que o futuro desta unidade hospitalar dependerá de quem nela pegar: “poderá ser uma clínica privada de luxo porque tem condições para tal. É um Hospital muito cobiçado porque tem condições excelentes, fruto de investimentos de vulto realizados nos últimos anos”.
Catarina Cerca
catarina@jb.pt