Na Bairrada já se vindima em força e a perspetiva não poderia ser mais animadora.
As temperaturas quentes durante o dia contrastam com as baixas que já se fazem sentir durante a noite, fator que, para o estado sanitário e de desenvolvimento dos cachos, não poderia ser melhor.
S.Pedro tem ajudado e tudo aponta para uma colheita que poderá ser, no geral, melhor do que a do ano transato.
Assim, 2013 poderá ser sinónimo de um ano de altíssima qualidade para os vinhos da região.
Embora a azáfama nas vinhas seja, por estes dias, enorme, a vindima irá prolongar-se até meados de outubro, altura em que a casta baga – a mais emblemática da região – vai sair da vinha rumo ao lagar.
“Ano Bairrada”. Pedro Soares, da Comissão Vitivinícola da Bairrada (CVB), admite que as expetativas são “muito altas”, falando mesmo que este será “um ano Bairrada” porque nas vinhas, as videiras estão muito viçosas e as uvas tintas acumularam já muita cor.”
E acrescenta: “os solos da Bairrada e o estado das videiras estão com um comportamento excelente, de tal maneira que o relativo atraso inicial de maturação já foi recuperado e as uvas estarão excelentes para produzirem espumantes e vinhos formidáveis”, e “as videiras estão com excelente capacidade de produzir cachos muito doces e, até porque genericamente os bagos não são muito grandes, vão produzir vinhos tintos com uma cor mais intensa do que os vinhos correspondentes do ano passado, bem como taninos macios e ácidos «frescos» e muito equilibrados”.
Em matéria de brancos, o responsável máximo da CVB acredita que serão “bem maduros e frescos”, enquanto que os espumantes devem apresentar “muita frescura e sabor”.
Pedro Soares avança ainda que as amplitudes térmicas registadas (elevadas) e a ausência de chuvas estão a proporcionar condições muito adequadas para a produção de vinho de primeiríssima qualidade, até porque “o estado sanitário das uvas é, genericamente impecável”.
“Pelos motivos acima indicados, a Bairrada – ou seja, as condições criadas na região, resultado do seu clima, solos, videiras e profissionalismo dos seus viticultores, técnicos de viticultura e enólogos – está a gerar condições de maturação perfeitas. Por esse motivo é que podemos afirmar, sem grande margem de erro, que a vindima será de altíssima qualidade.”
Produção de muito boa qualidade. Mário Ferreira, enólogo da Casa Sarmento (Mealhada) está satisfeito com o ano vitivinícola. Embora admita que no geral possa haver uma quebra de 20% na produção (houve menos nascença) relativamente a 2012, mostra-se bastante agradado com o facto da qualidade ser superior, sobretudo nos tintos. Nos 85 hectares de vinha que a Casa Sarmento possui na região da Bairrada a vindima começou a 2 de setembro e poderá terminar até ao final da semana, com a casta Baga para vinhos tintos tranquilos.
“O estado sanitários das uvas é muito bom. E se nos brancos a qualidade será boa, semelhante a 2012, nos tintos a fasquia eleva-se para patamares de excelência”.
“Na casta Baga deixamos um quilo a quilo e meio de cachos por videira. Com as amplitudes térmicas que se têm feito sentir, vamos ter uma produção de muito boa qualidade”, confirma.
Boas expetativas. Em Oliveira do Bairro, nos sete hectares da Quinta da Laboeira, o produtor Alberto Marques perspetiva também uma excelente safra. Embora tenha começado a vindima há apenas uma semana, com a casta Chardonnay, Bical e Maria Gomes, defende que a qualidade das castas brancas será melhor do que em 2012, já que os cachos têm mais açúcar.
“Amanhã [dia 24 de setembro] começo a vindima dos tintos com as castas Aragonês e Syrah e depois, mais lá para a frente [outubro] com o Cabernet e a Touriga Nacional”.
Alberto Marques confessa-se muito expectante quanto às castas tintas: “no nosso caso não temos problemas de podridão, os cachos estão sãos, o que leva a crer numa boa colheita”, ainda que fale que numa ou outra videira já comece a apresentar sintomas de stress hídrico.
Ano muito promissor. Em Cantanhede, a maior adega da Bairrada iniciou a vindima na passada semana e só terminará entre os dias 5 e 8 de outubro.
“Começamos com os brancos, à exceção do Merlot entretanto já vindimado por se tratar de uma casta bastante precoce na região”, diria o enólogo Osvaldo Amado, para quem este poderá ser um ano semelhante ao de 2011, que foi um ano histórico para a região.
O enólogo refere que a qualidade é boa e que as uvas apresentam um grande potencial enológico. “Os brancos estão bons na chegada à adega e acredito que vão traduzir-se em vinhos excelentes, soberbos”. Já nos tintos, Osvaldo Amado refere que o atraso inicial na maturação já foi ultrapassado, perspetivando-se igualmente um ano de excelência.
“A Adega tem 800 associados efetivos, o que equivale a mil hectares. Somos a única empresa que faz um controle de maturação em 80 postos (associados), duas vezes por semana”, diz, evidenciando o rigoroso controlo para que cheguem à adega uvas em perfeito estado de maturação.
Ano de qualidade elevada. Nas Caves São Domingos, a vindima começou, segundo a enóloga Susana Pinho, a 26 de agosto como habitualmente pelo Pinot Noir e logo de seguida a uva branca Chardonnay. Aqui, a vindima ainda se faz manualmente, transportada em caixas de 20 quilos, evitando assim o esmagamento do fruto que provocam contaminações e oxidações. Contudo, avança que “a vindima é feita a pensar no grau e na acidez”. Por outro lado, o facto de várias castas tintas apresentarem bagos mais pequenos, poder indiciar qualidade elevada.
Na São Domingos, está a terminar a segunda fase do grosso da vindima e só daqui a algumas semanas sairá da vinha a final a Touriga Nacional e a Baga para vinhos tranquilos.
“Vindimamos por castas. São cerca de 100 hectares – 10 da empresa e os restantes de viticultores, fornecedores de uvas – pelo que a vindima se fará até ao início de outubro”, conclui.